quarta-feira, 18 de maio de 2011

"As Flores tem Cheiro de Morte"

(O titulo é um verso tirado da música "Flores" dos Titãs)

Este conto foi inspirado em um fato contado pelo meu professor de teatro


    O verdadeiro artista é aquele que faz a arte pela arte, não arte pela ganância, pelo dinheiro, pela fama e glória. Usa da mesma para engrandecê-la e não a si. Ter gana não significa pisar em outros para poder se elevar mais... Enfim não pretendo escrever esse texto para que o leitor veja minha opinião sobre como um artista deve se portar, apesar de já tê-lo feito. Mas para relatar um caso que me ocorreu no humilde e sagrado antro onde eu e meus colegas fazemos acontecer o que chamamos arte.
    Como já bem visto sou um amante das artes cênicas, o jogo feito por nosso corpo e mente, que juntos conseguem ir além e fugir do comum. Quando atingimos o ponto em que realmente não somos, não agimos e nem pensamos como nós mesmos, ter a essência de outra ideologia e doutrina se apossar de cada músculo nosso. E foi assim o extraordinário que ocorreu comigo.
    Confesso que no começo achava os exercícios ridículos, jamais alguém como eu poderia fazer tamanha besteira, mas aos poucos percebi que algo foi acontecendo, eu já não era mais aquele aprendiz com o pensamento fútil “Eu não vou fazer isso...” foi quando o mentor nos pediu para que deitássemos e relaxássemos totalmente nossa matéria. Aos poucos fui fechando os olhos e deixando de fazer movimentos bruscos, depois passei para os movimentos pequenos, como um espasmo nas pálpebras, um aperto nos dedos dos pés. Até quando ouvi ele dizer:
— Você está morto! Defunto...
    Minha respiração foi diminuindo, eu até fiz certa coisa para me mostrar mesmo, a caro leitor sempre queremos nossos segundinhos de bel prazer. Mas o som das vozes baixas foram-se esvaindo, eu já não ouvia as respirações aflitas de meus colegas ao meu redor tentando relaxar. A única coisa que eu escutava era meu coração, pulsante, um tambor, nem mesmo engolir seco mais eu conseguia, até que este também parou...
    Senti-me em estado cataléptico.
    Mergulhado na escuridão das barreiras que tapavam meus olhos, eu me via afundando em trevas escuras, e jamais conseguiria alcançar a superfície. Por mais que tivessem vários corpos ao meu redor, estava só. A solidão que me tomava era insuportável. Foi quando eu me senti emparedado, como se algo comprimisse meu corpo, algo que me estava envolto. Alguns de meus sentidos me deixaram: a audição foi-se por completa, a visão era de um apagão intenso, o paladar deixou secas as minhas papilas. Apenas o tato que fazia sentir emparedado... E finalmente, quando eu já me sentia totalmente morto, era apenas isso o que me restava, algo macio pareceu estar pousado sobre meu peitoral e ali eu senti um perfume. Doce. O olfato foi o único companheiro que me restou. Não havia nada naquela sala que fazia exalar um aroma tão forte e suave. Foi quando me dei conta do que sentira, a que aquele cheiro estava relacionado, e o pavor me tomou, acabou por me fazer sair de tudo aquilo que estava passando: as paredes, as profundezas, aos poucos consegui voltar ao meu estado normal, quando acordei daquele pesadelo.
    GRITEI DESESPERADO, UM GRITO ENSURDECEDOR!!!
    Todos levantaram de suas posições fúnebres, assustados, e olhavam diretamente pra mim.
— O que aconteceu? — questionou-me o professor. E eu respondi ofegante e aliviado, com os olhos e músculos ainda pesados:
— Eu senti! O cheiro das flores no caixão!
    ...Deixo de narrar esta história tola e insignificante. O que vale lhes dizer de fato é: o cheiro de morte ainda me acompanha. E foi ela, essa digníssima presença, que me fez escrever isto a vocês.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Anjo...

Já faz um bom tempo que não posto nada, resolvi postar este pequeno poema que me fluiu nesta tarde fria e nublada...

Ó anjo da noite
Trazei-me de volta
Os anseios da vida
Que outrora eu pedira
Para que me fossem tirados

Ó anjo da noite
Tira-me do teu jardim
Onde o descanso reina
Onde as almas suspiram
O esplendor fúnebre

Traga-me os sentimentos
Mesmo aqueles ruins
Pois já não agüento
Essa paz derradeira
Que me fora selada

Ó anjo da noite...